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Dossiê 2025.2

Representações femininas nas ditaduras e genocídios do século XX

 

Organizadora: Caroline Peres Martins (UFRJ/USAL/CAPES)

E-mail para recebimento dos artigos: cperesmartins96@gmail.com 

Recebimento de artigos até 31 de junho de 2025

No dossiê Representações femininas nas ditaduras e genocídios do século XX, serão bem-vindos artigos que debatem a representação feminina nas ditaduras e genocídios da metade do século XX, sobretudo na América Latina e África, abordadas interdisciplinarmente, a partir de narrativas historiográficas, literárias ou projetos artísticos. Assim como as publicações A mordida da manga (2010) da serralonense Mariatu Kamara e Baratas (2018) da ruandesa Scholastique Mukasonga, as quais trazem a perspectiva de sobreviventes de conflitos armados no continente africano e apontam para as violações específicas sofridas por mulheres ao longo de tais processos históricos. 

Em relação à produção latino-americana, diversos são os trabalhos que têm se dedicado a participação e resistência feminina nas ditaduras do Cone Sul, a exemplo de Brasil (1964-1985) e Argentina (1976-1983), nas quais se destacam livros de ex-militantes políticas como Heróis demais (2011) da colombiana Laura Restrepo, sobre a última ditadura argentina; e O corpo interminável (2019) da carioca Claudia Lage, a qual ficcionaliza o passado ditatorial brasileiro, apoiada nas conclusões da Comissão Nacional da Verdade (CNV) de 2014 e na trajetória de guerrilheiras. Assim, o dossiê propõe reunir trabalhos cujo corpus protagonize as vozes femininas, apagadas através das décadas, na seara dos regimes militares do Cone Sul e/ou genocídios no continente africano.

A proposta do dossiê justifica-se pelo apagamento de vozes femininas em grande parte das narrativas oficiais, historiográficas e até mesmo literárias, pois, até o final do século XX, o mercado literário favoreceu lançamentos de homens retornados do exílio, principalmente no Brasil. Isso pode ser averiguado no mapeamento da crítica literária Eurídice Figueiredo (2017), no qual as escritoras são excluídas do boom de edições pós-anistia política em 1979, em que se sobressaem títulos como O que é isso, companheiro? de Fernando Gabeira (1979); Os carbonários (1980) de Alfredo Sirkis e Batismo de sangue (1982) de Frei Betto, por exemplo. 

Desse modo, obras assinadas por mulheres ganharam poucas edições e dificilmente foram republicadas, o que corrobora com o esquecimento de autoras como Flávia Schilling, Carmen Firsher e Mariluce Moura, que também estrearam na literatura na década de 1980. Além de esvaziar a participação e resistência de sobreviventes desses processos. Isso demonstra que o horizonte editorial pouco se afastara da perspectiva canônica de representação, em geral, produzida por homens brancos e heterossexuais. Assim como os regimes militares na América do Sul, os genocídios e conflitos armados no continente africano igualmente ocupam um segundo plano na memória coletiva, em que mesmo escritoras contemporâneas, como as mencionadas (Mariatu Kamara e Scholastique Mukasonga), ainda pouco circulam entre o público leitor latino-americano e tem uma fortuna crítica escassa. A proposta também se justifica pela atualidade do tema, já que os eventos estão situados no passado recente e devem ser transmitidos às novas gerações, em contraponto aos revisionismos e negacionismos históricos. 

À guisa de conclusão, vale ressaltar a originalidade da aproximação de experiências femininas em distintos contextos e continentes, porque as opressões e violações sofridas por mulheres marginalizadas em tais territórios, em alguma medida, acercam-se.