EDITORIAL
Tallita Stumpp
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Leandro Couto Carreira Ricon
Universidade Católica de Petrópolis – Faculdade EnsinE
Todos nós acompanhamos, ao longo dos últimos anos, os sucessivos ataques à educação brasileira e, sobretudo, à escola pública. Os confrontos que se travam não visam apenas um projeto educacional, mas um projeto de sociedade e, embora a democratização do acesso à educação tenha significado historicamente um avanço, as atuais configurações das políticas públicas neste âmbito lembrando-nos de que a construção de uma educação verdadeiramente democrática ainda está em processo e disputa. No entanto, as políticas públicas não se resumem à letra da lei, mas estão intimamente relacionadas com as práticas educativas, com os sujeitos nelas envolvidos, e com as instituições educacionais nas quais elas se desenvolvem. É a partir dessa relação dinâmica e complexa que o dossiê Políticas Públicas, Instituições Educacionais e Práticas Educativos reuniu reflexões e discussões plurais acerca do tema, buscando a compreensão das complexas questões destes processos.
O primeiro artigo, POLÍTICAS PÚBLICAS CURRICULARES: A QUESTÃO DA BNCC, de Luciana da Costa Itho e Thiago von Rondon Duarte, aborda a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no contexto das políticas públicas educacionais, considerando o histórico de reformas educacionais no Brasil, enquanto Alessandro Furtado Pacheco e Antonio Flavio Barbosa Moreira, em DESAFIOS E TRANSFORMAÇÕES NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: QUESTÕES ATUAIS, discutem as mudanças curriculares empreendidas pela Lei no 13415/2017 e a nova BNCC especificamente no Ensino Médio, demonstrando o alinhamento dessas mudanças com uma racionalidade neoliberal de valorização individual. Já o artigo LEGISLAÇÕES E PARADIGMAS SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: PONTOS FOCAIS ACERCA DO ENSINO PÚBLICO DE PETRÓPOLIS- RJ, de autoria de Luiza Martins Varricchio, trata das políticas de formação continuada de professores e da forma que esta é fomentada pelo poder público, especificamente no caso da cidade de Petrópolis, localizada na região serrana do estado do Rio de Janeiro.
Alan Marques de Pinho e Luiza Loubak de Souza, em INTERFACES ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA: UM ENSAIO SOBRE O ETHOS ACADÊMICO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA, discutem questões que permeiam a relação entre o saber universitário e as práticas pedagógicas de ensino, abordando as relações entre a formação docente sobreposta pelo conhecimento científico e a prática pedagógica, enquanto autêntico saber docente. Esta discussão encontra diferentes fios de diálogos possíveis com o texto de Márcio Vinícius Delgado e Antonio Flavio Barbosa Moreira, REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO, IDENTIDADE E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL, uma vez que propõe uma discussão que ressalta a importância da relação entre pesquisa narrativa e os estudos pedagógicos e curriculares, enfatizando o papel da metodologia de pesquisa para a produção de reflexões sobre a construção de identidades, valores e transformações sociais, permitindo o emergir de vozes marginalizadas.
O sexto texto, ESTRATÉGIA E TÁTICA: REFLEXÕES SOBRE O AMBIENTE EDUCACIONAL A PARTIR DA OBRA DE MICHEL DE CERTEAU, de autoria de Luiz Henrique Bechtlufft Bade, tece uma aproximação dos conceitos de ‘estratégia’ e ‘tática’, a partir do pensamento de Michel de Certeau, em busca de compreender as dinâmicas da relações estabelecidas no ambiente educacional, enquanto Aparecida Bassoli Machado, em ALTERIDADE NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL, também parte do pensamento de De Certeau para discutir a alteridade na sala de aula, considerando a influência das relações estabelecidas no ambiente escolar no processo de ensinoaprendizagem. Trazendo igualmente a discussão sobre a relação entre alteridade e educação, Cainan Espinosa Gimenes, em A PRÁTICA EDUCACIONAL ENQUANTO ABERTURA PARA O OUTRO EM EMANUEL LEVINÁS, relaciona a obra e pensamento de Emanuel Levinás com a prática educacional, partindo de uma abordagem filosófica. Já Leonardo de Carvalho, em VÍNCULOS AFETIVOS NA ESCOLA – UMA CONVERSA IMPORTANTE, reflete sobre os afetos e a importância do fortalecimento das relações criadas na sala de aula.
Focalizando as práticas educativas em matérias específicas da educação básica, NOVOS OLHARES PARA A DISCIPLINA DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE PETRÓPOLIS, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO, de autoria de Frederico Ferreira de Oliveira, Discute o processo de repensar a proposta curricular de História e Geografia,Turismo e Educação para o Trânsito em Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro,com base no lugar social e na multiculturalidade; enquanto Leonardo Augusto dos Santos Costa, em ENSINO DE HISTÓRIA NA ERA DIGITAL: REDES SOCIAIS E PRÁTICAS EDUCACIONAIS, apresenta reflexões acerca da integração das redes sociais na educação e das possibilidades de dinamização do ensino de História e da popularização de seu conhecimento.
Por último temos o texto de Ana Clara do Carmo Clemente, ENSINO ANARQUISTA: REFLEXÕES E CONTRIBUIÇÕES, no qual a autora analisa as teorias e práticas anarquistas no campo da educação a partir de uma síntese dos pensamentos de seus principais intelectuais.
Desejamos aos leitores uma boa leitura e que as reflexões propostas, partilhando da compreensão de que é preciso anunciar denunciando e denunciar anunciando, possam possibilitar outras mais.